*Texto Publicado em Julho/2009.
Precavido leitor, minuciosa leitora. Cuidado! Os vigias do “politicamente correto” estão de olhos bem abertos para tudo e trabalhando a todo vapor. Qualquer palavra mal colocada, ainda que por brincadeira, pode levar a sérias complicações, inclusive denúncias de racismo! O debate está em alta, borbulha tanto nas redações e na internet quanto nas rodas de amigos.
Fruto de uma cultura escravocrata e discriminatória, nós brasileiros, até que soubemos lidar naturalmente com o problema, e herdamos também um antídoto para o chamado preconceito: o bom-humor. Ficamos até mundialmente conhecidos pela proeza de conseguir fazer piada do próprio sofrimento.
Desde o final de 2004, no entanto, quando o Presidente Lula, por meio da Secretaria Especial dos Direitos Humanos publicou a chamada “Cartilha do Politicamente Correto”, reascendeu uma enorme polêmica, antes adormecida: a partir de então, seria proibido o uso de palavras em livros ou meios de comunicação de massa que pudessem ser interpretadas de forma pejorativa. “Preto”, “beata”, “funcionário público” e “anão” são alguns exemplos citados na publicação.
O recado era dado especialmente a políticos, jornalistas, professores e outros profissionais com certo poder de influência, mas atingiria também toda a população.
Quanto a você, caro leitor, se por ventura encontrar aquele amigo de infância, o qual chamava carinhosamente de “Neguinho”, ou aquele ruivinho, mais conhecido como “Ferrugem”, cuidado. Qualquer pessoa que se sentir incomodado ou ofendido com o apelido pode acionar a justiça. Se for assistir a um jogo de futebol, então, mais cuidado ainda ao xingar o juíz! Para os mais exaltados, “descentente de senhoras que comercializam o próprio corpo” seria uma sugestão politicamente correta em vez do habitual.
O caso mais recente envolvendo a polêmica do racismo no Brasil surgiu da internet. Danilo Gentili, que ficou conhecido como o repórter inexperiente do programa CQC da Band, publicou
Coincidentemente, isto ocorreu na mesma semana em que se celebra o 15º ano da morte de Mussum, um dos maiores humoristas negros do país. Reconhecido como único dos “trapalhões” que não representava nenhum personagem, e sim a ele próprio, ficou conhecido por satirizar sua condição de negro com expressões tais como “negão é teu passadis” e “quero morrer pretis se tiver mentindo”.
Se estivesse vivo, talvez reagisse da seguinte forma ao ser perguntado sobre racismo: “Criôlo é tua véia! Me dá um ‘mé’ que eu vou me empirulitar. Cacildis!” E pronto.
De fato, talvez o preconceito esteja nos olhos de quem vê.
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