*Texto para Editoria de Esportes, Publicado no Jornal Dia a Dia - Junho/2009
Ela chega sem ninguém esperar, uma delícia quando é agradável, mas uma verdadeira lástima quando não vem em boa hora. Como numa montanha-russa no escuro, não se pode prever o que vem a seguir: Surpresa!
Assim é a nossa seleção brasileira, a cada partida uma emoção diferente, mas vá lá! Talvez o coração do torcedor brasileiro não precisasse de tanto! Se fosse possível resumir o que foi a Seleção Brasileira nesta Copa das Confederações, sem dúvidas, seria “surpresa”!
Sim, pois, logo na estréia, um jogo fácil: Egito, que vinha de derrota para a Argélia (quem?) contra os atuais campeões da Copa das Confederações, não deveria aprontar muita coisa. É barbada! Apostei 3x0 no bolão.
Tudo pronto, a maioria da torcida a favor, qualidade técnica incomparável, receita de goleada. Até começamos bem, com um golaço de Kaká, mas de repente... Surpresa!! Egito empata. Definitivamente, isto não estava nos planos de Dunga e de nenhum torcedor. Mas como diz a célebre desculpa que já virou hit nas entrevistas pós-jogo, “isso é coisa do futebol”.
Refeito do susto, o Brasil volta para o segundo tempo vencendo por 3x1, “placar de fim de jogo”, segundo a boca santa de Galvão Bueno. Sim, mas isso seria previsível demais! Então, coloque mais uma “surpresa” aí na sua lista. Em menos de dez minutos, jogo empatado!! As orelhas de Dunga deveriam estar fervendo e do tamanho das do Dumbo, até que, quando todos já estavam conformados com o péssimo resultado, pênalti para o Brasil. Kaká de novo, marca. Ufa! O resultado não foi surpresa, mas no contexto, digno de roteiro de filme de suspense.
Na segunda rodada, surpreendendo os pessimistas, o Brasil foi, de fato, o Brasil (se me permitem a analogia) e venceu bem os Estados Unidos por 3x0. Em seguida, surpreendeu até mesmo os otimistas ao atropelar os italianos pelo mesmo placar. E pra melhorar, teríamos a África do Sul pelas quartas de finais, fãs declarados da seleção canarinho. “Se contra a azzurra enfiamos três, desta vez o placar seria igual o de pelada nos tempos de escola: cinco vira, dez acaba!” – diriam os mais confiantes.
Surpreendentemente, tudo muda. O time de Joel Santana cria as melhores chances de gol, e só não vence por detalhe. Dunga tinha um trunfo na manga, ou uma surpresa para os comentaristas esportivos: um destro na lateral esquerda. (alteração que fica fácil explicar no caso de vitória, mas ai dele se fosse o contrário...) E lá vai ele, Daniel Alves, surpreende o goleiro e, em vez de jogar sobre a barreira, manda a bola no ângulo esquerdo e coloca o Brasil na final (e um sorriso do tamanho do Maracanã na boca de Dunga).
Em tempo, justiça seja feita. A maior surpresa (para não dizer zebra) da competição foi ver o time do país em que se joga futebol com as mãos na final. Isto porque, os Estados Unidos mandou pra casa o país líder do ranking da FIFA, a Espanha, ao vencer por indiscutíveis 2x0. O soccer, enfim, ganha destaque e até primeira página na imprensa americana. Se isso não surpreende, ao menos virou notícia.
Agora é pra valer, é a final, chegou a hora. Os dois times já se conhecem e não há mais espaço para surpresas. Mas, porém, todavia, entretanto... “o futebol não é uma ciência exata” – mais uma célebre frase futebolística. E bem, quem assistiu ao jogo, tenho a certeza absoluta de que se surpreendeu. Se não pela vantagem estabelecida pela equipe americana no primeiro tempo, ao menos pela virada espetacular dos brasileiros no segundo. O gol do título? Kaká, Robinho, Luís Fabiano, nenhum deles... Lúcio! Esse mesmo, o zagueiro que hoje está sem clube (já que o Bayern não pretende renovar seu contrato) foi o autor do gol salvador.
Num campeonato marcado pelas surpresas, talvez essa nem seja digna de nota. Mas pensando bem, a surpresa não consiste no ato de surpreender? Pois então! Taí, eu também consigo. Parafraseando o lema de Obama que foi entoado pelos americanos no final do primeiro tempo, a Seleção Brasileira comemorou o título gritando em alto e bom som nos vestiários: Yes! Nós Podemos!!! Mas isso não é surpresa pra ninguém.